quinta-feira, 26 de novembro de 2009

POR DENTRO E POR FORA


Se, porventura, o sumo sacerdote, dentro do Santo dos santos, no Dia da Expiação, levantasse a tampa da Arca da Aliança para ver as duas tábuas de pedra que continham os Dez Mandamentos, o vaso de ouro que continha o maná e o bordão de Arão que havia florescido -- ele veria que aquela arca sagrada era revestida de ouro puro não só por fora, mas também por dentro. Por ordem de Deus, foi exatamente assim que Bezalel, o superdotado artífice do tabernáculo a fez, como se lê no livro de Êxodo: Bezalel fez a arca de 1,10 metro de comprimento e 70 centímetros de largura e altura e “revestiu-a de ouro puro por dentro e por fora” (Êx 37.2).

Se, muitos anos depois, no tempo de Jesus, alguém fosse à casa de algum membro do partido dos fariseus, em Jerusalém, e pedisse um copo d’água e um prato de comida, logo perderia a sede e a fome. Pois o copo e o prato que estavam reluzentes na cristaleira achavam-se limpos por fora e sujos por dentro. A denúncia não é de nenhum guarda da saúde pública, mas do próprio Jesus Cristo, e a preocupação não é com a limpeza de copos e pratos, mas com a limpeza do caráter. Os fariseus eram artífices da hipocrisia, eram sepulcros caiados, “bonitos por fora, mas por dentro cheios de ossos e de todo tipo de imundície” (Mt 23.25-28).

Jesus teve muito mais paciência com mulheres de conduta sexual confusa do que com qualquer exibição de virtude ou sentimento inexistentes. Ele chegou a amaldiçoar uma figueira por causa de sua aparência enganosa: tudo indicava que a árvore tinha frutos, quando, de fato, nenhum figo foi achado nem colhido (Mc 11.12-14).

O juízo de Deus é muito mais frequente e severo quando o pecado se chama hipocrisia. O escritor Josué Montello acertou em cheio quando disse que “todos temos duas personalidades: a verdadeira e a social, que nem sempre rimam uma com a outra”. Quando a rima não acontece, Deus certamente provocará o escândalo necessário, ou no presente momento (o que é muito melhor) ou no juízo vindouro (o que será irreversivelmente trágico). Foi isso que ele prometeu fazer com Israel na época de Manassés (696 a.C.): “Limparei Jerusalém como se limpa um prato, lavando-o e virando-o de cabeça para baixo” (2Rs 21.13). Em outra expressão equivalente, Deus ameaça a grande cidade de Nínive: “Vou levantar o seu vestido até a altura do seu rosto. Mostrarei às nações a sua nudez e aos reinos, as suas vergonhas” (Na 3.5).

O livro de Provérbios denuncia a estratégia de ocultar o coração mau com lábios amistosos. Seria como colocar uma camada de esmalte sobre um vaso de barro (Pv 26.23). Nosso modelo deve ser a Arca da Aliança, revestida de ouro puro tanto por fora como por dentro!


Fonte: Revista Ultimato - edição novembro-dezembro/2009

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