sábado, 7 de novembro de 2009

O CULTO DOMÉSTICO


Toda igreja quer crescer. Mas, é surpreendente como só umas poucas procuram promover o seu crescimento interno pela ênfase na necessidade de criar os filhos na verdade da Aliança. Poucos lutam seriamente com o porquê de muitos adolescentes se tornarem membros nominais, com uma mera noção de fé, ou de trocarem a verdade evangélica por doutrina antibíblica e por modos de culto.

Creio que uma grande razão desse fracasso seja a falta de ênfase no culto doméstico. Em muitas igrejas e lares o culto doméstico é algo opcional ou, no máximo, um exercício superficial, assim como uma breve oração de graças à mesa antes das refeições. A conseqüência é que muitas crianças crescem sem qualquer experiência ou impressão da fé cristã e do culto como uma realidade diária. Quando meus pais celebraram as bodas de ouro todos nós, os cinco filhos, decidimos expressar-lhes a nossa gratidão de uma mesma maneira sem que antes houvéssemos nos consultado mutuamente. Todos nós, inacreditavelmente, agradecemos à nossa mãe por suas orações, e todos nós agradecemos ao nosso pai pela sua liderança no nosso culto doméstico nas tardes de domingo. Meu irmão disse: “pai, a lembrança mais antiga que tenho é de lágrimas escorrendo pela sua face quando você nos ensinava com o livro “O Peregrino” nas tardes de domingo sobre como o Espírito Santo dirige os crentes. Quando eu tinha três anos de idade Deus lhe usou no culto doméstico para me dar a convicção de que o cristianismo era real. Não importou o tanto que me desviei anos mais tarde, eu jamais pude questionar seriamente a realidade do cristianismo, e eu quero lhe agradecer por isso”.

Será que veremos reavivamento entre os nossos filhos? Lembremo-nos de que é comum Deus usar a restauração do culto doméstico para trazer o reavivamento à igreja. Por exemplo, as cláusulas do termo de compromisso de 1677 da congregação Puritana de Dorchester, em Massachusetts, incluíam o dever “de reformar as nossas famílias, empenhando-nos no zelo de nos comprometermos a manter nelas o culto a Deus, e a andarmos em nossas casas com corações retos no cumprimento fiel de todos os deveres domésticos, educando, instruindo e exortando nossos filhos e familiares a guardarem os caminhos do Senhor”.

Assim como vai o lar vai também a igreja, vai também a nação. O culto doméstico é um dos fatores mais decisivos de como vai o lar. É claro que o culto doméstico não é o único fator. Ele não substitui os outros deveres de pais e mães. Sem o exemplo deles o culto doméstico é inútil. O ensinamento espontâneo que brota ao longo de um dia normal é crucial, no entanto, também é importante definir momentos para o culto doméstico. O culto doméstico é o fundamento para a criação bíblica de filhos. Neste livreto vamos examiná-lo sob cinco aspectos: (1) as bases teológicas do Culto Doméstico; (2) O dever de realizá-lo; (3) a sua prática; (4) a objeções a ele; (5) a sua motivação.

As bases teológicas do culto doméstico têm as suas raízes no próprio ser de Deus. O apóstolo João nos diz que o amor de Deus é inseparável da Sua vida trinitária. O amor de Deus promana e transborda, partilha sua bem-aventurança de uma Pessoa da Trindade para as outras. Deus jamais foi um ser solitário e individual a quem faltasse alguma coisa em Si. A plenitude de luz e de amor é eternamente compartilhada entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

O Deus majestoso e trino não se espelhou em nossas famílias, ao contrário, Ele modelou o conceito terreno de família com base em Si mesmo. Nossa vida familiar reflete mui palidamente a vida da Trindade Santa. É por isso que Paulo fala de “o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, do qual toda a família nos céus e na terra toma o nome” (Ef 3.14-15). O amor das pessoas da Trindade era tão grande desde a eternidade que o Pai decidiu criar um mundo de pessoas que, embora finitas, tivessem personalidades que refletissem o Filho. Sendo conformes o Filho, elas poderiam assim partilhar da bendita santidade e gozo da vida da família da Trindade.

Deus criou Adão à Sua própria imagem e criou Eva a partir de Adão. Deles procedeu toda a família humana, de forma que a humanidade pudesse ter comunhão pactual com Deus. Como uma família de duas pessoas, os nossos primeiros pais adoravam a Deus reverentemente quando Ele passeava com eles no jardim do Éden (Gn 3.8).

Adão, no entanto, desobedeceu e transformou o gozo da adoração e da comunhão com Deus em temor, terror, culpa e alienação. Ele, como nosso representante, causou grande dano ao relacionamento da família de Deus com a família da humanidade. Contudo o propósito de Deus não pode ser frustrado. Enquanto ainda estavam diante dEle no Paraíso, Deus firmou com eles uma nova Aliança, a Aliança da Graça, e falou a Adão e Eva sobre o Seu Filho que, como semente da mulher, iria destruir o domínio de Satanás sobre eles e garantir-lhes as bênçãos desse pacto de graça (Gn 3.15). Através da obediência de Cristo à lei e do Seu sacrifício pelo pecado, Deus abriu o caminho para salvar pecadores satisfazendo, ao mesmo tempo, à Sua justiça. O Cordeiro seria morto no Gólgota para levar o pecado do mundo, de sorte que pobres pecadores como nós pudessem ser restaurados ao nosso verdadeiro propósito: glorificar, adorar e ter comunhão com o Deus trino. Como diz verdadeiramente I João 1.3: “a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo”.

Deus relaciona-se com a raça humana por intermédio de Alianças e de lideranças, ou representações. Na vida diária os pais representam os filhos, o pai representa a esposa e os filhos, os oficiais eclesiásticos representam os membros da igreja e os legisladores representam os cidadãos. Na vida espiritual toda pessoa ou é representada pelo primeiro Adão, ou pelo último (veja Rm 5 e 1Co 15). Esse princípio de representatividade permeia toda a Escritura. Lemos, por exemplo, da semente piedosa de Sete, de Noé e de Jó que ofereceram sacrifícios em favor de seus filhos (Gn 8.20-21; Jó 1.5). Deus organizou a raça humana em famílias e tribos, e trata com elas através da liderança do pai. Como disse Deus a Abraão: “em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12.3).

O sistema mosaico deu continuidade ao princípio no qual o pai representava a família na adoração e na comunhão com Deus. O livro de Números, de modo particular, focaliza o relacionamento de Deus com o Seu povo em termos de famílias e de suas lideranças. O pai devia conduzir a família na adoração da Páscoa e instruir a seus filhos sobre o seu significado.

por Dr. Joel Beeke

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