Quatro declarações devem ser
compreendidas e afirmadas a fim de se obter uma imagem completamente
bíblica da pessoa de Jesus Cristo:
1. Jesus Cristo é plena e completamente divino.
2. Jesus Cristo é plena e completamente humano.
3. As naturezas divina e humana de Cristo são distintas.
4. As naturezas divina e humana de Cristo estão completamente unidas em uma pessoa.
A Divindade de Cristo
Muitas passagens da Escritura demonstram que Jesus é plena e completamente Deus:
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
[...] E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de
verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai. (João
1.1,14)
Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou. (João 1.18)
Respondeu-lhe Tomé: Senhor meu e Deus meu! (João 20.28)
[...] deles são os patriarcas, e também deles descende o Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para todo o sempre. Amém! (Romanos 9.5)
Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens [...] (Filipenses 2.5-7)
[...] aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus [...] (Tito 2.13)
Ele, que é o
resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas
as coisas pela palavra do seu poder [...] (Hebreus 1.3)
[...] mas acerca do
Filho: O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre; [...] Ainda: No
princípio, Senhor, lançaste os fundamentos da terra, e os céus são obra
das tuas mãos [...] (Hebreus 1.8,10)
Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que conosco obtiveram fé igualmente preciosa na justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo [...] (2Pedro 1.1)
O Entendimento de Jesus Acerca da Sua Própria Divindade
Embora as passagens citadas acima
claramente ensinem a divindade de Cristo, essa verdade é frequentemente
desafiada. Alguns dizem que Jesus jamais reivindicou ser Deus e que tais
versículos foram escritos por seus discípulos, que o divinizaram por
causa do impacto que ele causara em suas vidas. Jesus, é dito, via a si
mesmo tão somente como um grande mestre moral semelhante a outros
líderes religiosos. Todavia, o entendimento de Jesus acerca da sua
própria divindade nos Evangelhos não dá suporte a essa perspectiva. Ele
claramente via a si mesmo como Deus. Isso pode ser visto primariamente
de seis maneiras.
1. Jesus ensinava com autoridade divina.
Ao final do sermão do monte, “estavam as multidões maravilhadas da sua
doutrina; porque ele as ensinava como quem tem autoridade e não como os
escribas” (Mateus 7.28-29). Os mestres da lei no tempo de Jesus não
tinham qualquer autoridade própria. A sua autoridade vinha do seu uso de
autoridades anteriores. Mesmo Moisés e os demais profetas do AT não
falavam por sua própria autoridade; antes, diziam: “Assim diz o Senhor”.
Jesus, por outro lado, interpreta a lei dizendo: “Ouvistes o que foi
dito aos antigos. [...] Eu, porém, vos digo” (ver Mateus 5.22,
28, 32, 34, 39, 44). Essa autoridade divina é demonstrada com
surpreendente clareza quando ele fala de si mesmo como o Senhor que
julgará toda a terra e dirá aos ímpios: “Nunca vos conheci. Apartai-vos
de mim, os que praticais a iniquidade” (Mateus 7.23). Não é de admirar
que as multidões estavam maravilhadas ante a autoridade com a qual Jesus
falava. Jesus reconhecia que as suas palavras carregavam o peso divino.
Ele admitia a autoridade permanente da lei e punha suas palavras no
mesmo nível dela: “Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra
passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se
cumpra” (Mateus 5.18); “Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão” (Mateus 24.35).
2. Jesus tinha um relacionamento único com Deus o Pai.
Quando era um jovem menino, Jesus se assentou com os líderes religiosos
no templo, maravilhando as pessoas com as respostas que dava. Quando
seus pais distraídos finalmente encontraram o seu adolescente “perdido”,
ele respondeu dizendo: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que me
cumpria estar na casa de meu Pai?” (Lucas 2.49). A referência de Jesus a
Deus como “seu Pai” é uma declaração radical do relacionamento único,
íntimo com Deus, acerca do qual ele já tinha plena consciência. Uma
afirmação semelhante feita por um indivíduo não tinha precedentes na
literatura judaica. Jesus ainda levou esse tratamento pessoal singular a
um outro nível ao dirigir-se a Deus o Pai usando a afetuosa expressão
aramaica “Abba”.
3. A maneira preferida de Jesus referir-se a si mesmo era o título Filho do Homem. A expressão “um filho de homem” podia significar simplesmente “um ser humano”. Mas Jesus referia-se a si mesmo como o
Filho do Homem (sugerindo o singular, bem-conhecido Filho do Homem), o
que indicava que ele via a si mesmo como o Filho do Homem messiânico de
Daniel 7, o qual haveria de governar o mundo inteiro por toda a
eternidade:
Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao Ancião de Dias, e o fizeram chegar até ele. Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído. (Daniel 7.13-14)
Jesus estabelece a sua autoridade divina
como o glorioso Filho do Homem messiânico ao declarar que ele tem o
poder de perdoar pecados e que é o senhor do Shabbath: “Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados
— disse ao paralítico: Eu te mando: Levanta-te, toma o teu leito e vai
para tua casa” (Marcos 2.10-11); “E acrescentou: O sábado foi
estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado; de
sorte que o Filho do Homem é senhor também do sábado” (Marcos 2.27-28).
4. O ensino de Jesus enfatizava a sua própria identidade.
Jesus veio ensinando o reino de Deus, no qual ele é o Rei. O seu ensino
lidava com muitos tópicos, mas era, sobretudo, acerca de si mesmo que
ele ensinava. A sua pergunta aos discípulos, “Quem dizeis vós que eu
sou?” (Mateus 16.15), é a questão primordial do seu ministério.
5. Jesus aceitou adoração.
Talvez a mais radical demonstração da certeza de Jesus quanto à sua
divindade estava no fato de que, ao ser adorado, como às vezes ele foi,
ele aceitava tal adoração (Mateus 14.33; 28.9,17; João 9.38; 20.28). Se
Jesus não acreditasse que ele era Deus, ele deveria ter veementemente
rejeitado ser adorado, como Paulo e Barnabé fizeram em Listra (Atos
14.14-15). O fato de um judeu monoteísta como Jesus aceitar adoração de
outros judeus monoteístas mostra que Jesus estava consciente de possuir
uma identidade divina.
6. Jesus se igualou ao Pai, e como resultado disso os líderes judeus acusaram-no de blasfêmia:
Mas ele lhes disse:
Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também. Por isso, pois, os
judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não somente violava o
sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a
Deus. (João 5.17-18)
Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade eu vos digo: antes que Abraão existisse, EU SOU
[uma clara alusão ao nome sacro e divino de Yahweh; cf. Êx 3.14].
Então, pegaram em pedras para atirarem nele; mas Jesus se ocultou e saiu
do templo. (João 8.58-59)
Eu e o Pai somos um.
Novamente, pegaram os judeus em pedras para lhe atirar. [...]
Responderam-lhe os judeus: Não é por obra boa que te apedrejamos, e sim
por causa da blasfêmia, pois, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo. (João 10.30-33)
Ele, porém, guardou
silêncio e nada respondeu. Tornou a interrogá-lo o sumo sacerdote e lhe
disse: És tu o Cristo, o Filho do Deus Bendito? Jesus respondeu: Eu sou,
e vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso
e vindo com as nuvens do céu [uma referência a Daniel 7; ver ponto 3].
Então, o sumo sacerdote rasgou as suas vestes e disse: Que mais
necessidade temos de testemunhas? Ouvistes a blasfêmia; que vos parece? E todos o julgaram réu de morte. (Marcos 14.61-64)
Implicações da Divindade de Cristo
Porque Jesus é Deus, as seguintes coisas são verdadeiras:
1. Deus pode ser conhecido definitiva e pessoalmente em Cristo:
“Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é
quem o revelou” (João 1.18); “Quem me vê a mim vê o Pai” (João 14.9).
2. A redenção é possível e foi realizada em Cristo: “Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1Timóteo 2.5).
3. No Cristo ressurreto, assunto
e entronizado nós temos um Sumo Sacerdote que simpatiza conosco que tem
um poder infinito para suprir nossas necessidades: “Porque não
temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas;
antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem
pecado” (Hebreus 4.15).
4. Adoração e obediência a Cristo são apropriadas e necessárias.
Erros Históricos Acerca da Divindade de Cristo
A mais antiga e radical negação da divindade de Cristo é chamada ebionismo ou adocionismo,
a qual foi ensinada por uma pequena seita judaico-cristã no primeiro
século. Eles acreditavam que o poder de Deus veio sobre um homem chamado
Jesus para habilitá-lo a cumprir o papel messiânico, mas que Cristo não
era Deus. Uma heresia cristológica posterior e mais influente foi o arianismo
(início do século IV), o qual negava a natureza eterna e plenamente
divina de Cristo. Ário (256-336 d.C.) acreditava que Jesus era o
“primeiro e maior dos seres criados”. A negação ariana da divindade
plena de Jesus foi rejeitada pelo Concílio de Nicéia em 325. Naquele
concílio, Atanásio demonstrou que, segundo a Escritura, Jesus é
plenamente Deus, sendo da mesma essência do Pai.
FONTE: Voltemos ao EvangelhoWebsite: thegospelcoalition.org. Original: Biblical Doctrine: The Person of Christ. © 2001–2012 Crossway. All rights reservedTradução: www.voltemosaoevangelho.com.
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