Digão
Pois é. No fim das contas, o Corinthians não apenas ganhou a Taça Libertadores, mas também o Mundial Interclubes, no Japão. É a coroação de um trabalho desenvolvido ao longo de um bom tempo, com dedicação, esforço pessoal e até mesmo toques de sorte.
Não sou corintiano, mas
fico feliz ao ver a vitória deste time. Esta vitória me fez refletir sobre
nossa trajetória de vida e aquilo que muitos apregoam irresponsavelmente por aí.
O Corinthians hoje tem a
merecida posição de campeão mundial. Mas já caiu, num passado recente, à Segunda
Divisão. Hoje todos celebram o técnico Tite, e até mesmo brincam com sua
empolação, sua busca pela “jogabilidade”, buscando o “equilíbrio”. Mas me
lembro de Tite de modo diferente. Lembro-me dele afundando o meu glorioso Galo,
levando-o à Segundona. Lembro-me de sua cabeça dura (agora é “foco”) em não
querer trocar as escalações. Obviamente ele não foi o único culpado por aquele
desastre de proporções faraônicas, mas ficou esta marca.
O que quero dizer com
isso? Quero dizer que essa novilíngua “invangélica” nada tem de ligação com o
Evangelho. Prometer o céu aqui na terra, esquecendo-se das pedras e espinhos, é
ilusão, e não a mensagem do Crucificado. Quem apregoa tal coisa é um enganador;
quem a isto aceita, um irresponsável. Esse negócio de ser campeão e vencedor
sempre não dá certo. Todo campeão tem dia de perna-de-pau.
Muitos dizem: “ah, mas
somos filhos do Rei”. Ok, mas o Reino não é deste mundo, segundo aquele
livrinho antigo e há muito esquecido; portanto, os parâmetros que uso para
quantificar e qualificar o Reino não podem nunca ser os mesmos dos reinos
daqui. Um membro da realeza britânica, por exemplo, vive nababescamente,
somente recebendo as benesses do Estado; um membro do Reino deve viver sua vida
para ser bênção, doando-se ao próximo.
Na vida do cristão, os
sofrimentos e as dores são inescapáveis. O que fará a diferença é o que faremos
com eles. Podemos negar a dor, ressuscitando a ideia da realidade como ilusão
das religiões orientais (o que não seria novidade, uma vez que já ouvi certo
cantor dizendo que queria se “diluir” em Deus, ensino estranho à Bíblia mas
comum ao nirvana budista); podemos nos sentar na beira da calçada e, como emos
gospelinos, chorar a impotência de Deus; ou podemos seguir em frente, pedindo
misericórdia a Deus, sabendo que, se for de Sua vontade, Ele nos dará vitória;
caso contrário, apenas Sua presença nos basta.
Na verdade, este
triunfalismo que vemos por aí é a pura e simples negação do Evangelho, que nos
relata que ganhamos a Vida através da morte do Doador da Vida. Tal
triunfalismo, cheio de elementos nocivos (as teologias da prosperidade e do
domínio são as mais evidentes) tem feito surgir uma geração de gente cheia de
vida vazia, alienada, desconectada da realidade e do Deus que dizem adorar.
Gente que pensa ser o umbigo o centro do universo; gente que quer “curtir a
vida”, ignorando a segunda milha, o amor ao próximo, a graça e a cruz; gente
que, por não ter o costume de ser moldada pela oração, se torna simplesmente
uma turba religiosa, cheia de veneno e fel.
A vitória do Corinthians é
uma valiosa lição aos cristãos, mesmo aqueles que não torcem pelo time. O
sucesso de Tite é a demonstração de alguém que fracassou no comando de um time
e se reergueu logo à frente. Quem venceu foi o “casca grossa” Emerson Sheik, e
não os medalhões Felipão, Vanderlei Luxemburgo ou o midiático Neymar. O time
paulista venceu, mas também muitas vezes perdeu. Assim é a vida. E assim é
também com o seguidor do Crucificado. Afinal de contas, o triunfalismo é brotado
das entranhas de Baal, mas do coração do Senhor vem a misericórdia.
Digão não joga futebol com medo de ser confundido com a bola, mas é do timão do Genizah
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