sábado, 10 de julho de 2010

CRENTES PERIFÉRICOS


Fiz uma aliança com Deus: que Ele não me mande visões, nem sonhos, nem mesmo anjos. Estou satisfeito com o dom das Escrituras Sagradas, que me dão instrução abundante e tudo o que preciso conhecer tanto para esta vida quanto para o que há de vir. (Martinho Lutero).

Inicio esta reflexão com uma pergunta: você saberia dizer quais os motivos que justificam o seu ingresso ou permanência em uma igreja "evangélica"?

A igreja deveria estar a serviço do Reino de Deus, mas hoje em dia, com raras exeções, tem servido a outros "senhores", a interesses completamente opostos ao Evangelho. A igreja deveria servir ao próximo, servir para promover vida, porém, é inegável que muitos têm feito da "casa de oração" um "covil de ladrões". Então, quais os motivos pelos quais você continua na igreja?

Em face desse estado de coisas, muitos acham que é possível ser crente em casa, no conforto do lar, sem envolvimento com o Corpo de Cristo. Afirmam que o importante é a sua relação com Deus e não com a igreja.

Dizem que a igreja é uma instituição falida, hipócrita e que preferem não ter compromisso com apenas uma denominação e todos os seus defeitos, mas freqüentar várias igrejas para tirar o que cada uma tem de melhor. Afirmam ainda que são “de Cristo” e isto basta.

Na década 90, houve uma proliferação de congressos e cruzeiros de "pregadores famosos". Cada entidade ou denominação realizava seu evento em hotéis de luxo, balneários e estâncias hidrominerais, fora as viagens em aviões fretados para Israel, batismo no rio Jordão e outras coisas mais. Pouco a pouco, os congressos acabaram ou perderam impacto. Quando passou essa febre, sobrou pouca gente. Eram os "crentes de congresso".

Somos uma geração que detesta compromisso. É muito mais fácil entrar no estádio, ficar na arquibancada falando mal do técnico e depois ir embora para casa, do que estar efetivamente envolvido no processo. É mais fácil falar mal da igreja, apontar erros, mesmo que existentes, e praticar o denuncismo vazio, do que se envolver na obra.

A igreja é uma instituição divina e como tal, não pode estar falida. É como o casamento: embora a sociedade o ridicularize e diga que é uma instituição falida, somos obrigados, como pessoas de fé, a nos levantar e bradar que falidos estamos nós, por causa do nosso orgulho, egoísmo e hedonismo. O problema não é com o casamento, é com os casados.

A igreja não é uma mera instituição religiosa. Não é composta de convenções, sedes, organizações jurídicas ou redes de franquias. A igreja somos nós. Por isso, não adianta falar da igreja como se fosse uma entidade, uma terceira pessoa.

Esse conceito de que posso ser cristão à margem deste processo é falsa. Se sou realmente cristão, estou envolvido diretamente com a coisa toda. Jesus ensinou que quem não quer compromisso na terra, não pode ter compromisso no céu.

Você não precisa ser membro de uma igreja para ser salvo: para isto basta crer no Senhor Jesus. Porém, a regra é clara: se você já é salvo pelo sangue do Cordeiro, precisa estar em comunhão com uma igreja local. Caso contrário, sua comunhão com Deus estará interrompida. Ser ligado na terra é estar em comunhão com o corpo de Cristo. Foi o que ele disse quando afirmou “o que ligardes na terra será ligado no céu e o que desligardes na terra será desligado no céu”. (Mateus 18.18).

Muita gente diz que para se relacionar bem com Deus não é preciso fazer parte de uma igreja, que isso é secundário, que o que importa é a sua devoção pessoal. Não! Segundo este versículo, esta é uma situação impossível.

Quem está em comunhão com Deus necessariamente precisa estar em comunhão com seus irmãos. E a prática comprova a teoria. Quem diz esse tipo de coisa, invariavelmente não está nada bem com Deus. Usa isso como desculpa para justificar sua falta de compromisso.

O que o apóstolo João disse sobre o amor é válido também para a comunhão: se você não ama a seu irmão a quem você vê, como pode amar a Deus a quem você não vê? (I João 4:20).

Apesar da integridade e moral duvidosa de muitas "lideranças", a despeito da zombaria e escárnio que se tem feito usando o nome de Deus, mesmo com todos os erros, mesmo com a perda da identidade de muitas igrejas, Jesus não desistiu delas!

É só prestar atenção ao seu redor. Ainda há conversões genuínas, ainda existe cura para o doente, ainda existe um povo que não retrocede na sua esperança, que sabe que é de Deus, e por ser de Deus não desiste nunca. Aliás, nós não desistimos, porque Ele não desistiu, e prometeu que onde estiverem dois ou três reunidos em Seu Nome, Ele ali estará.

É muito cômoda a posição de “usuário”. Você vai à igreja “a” por causa do louvor, à igreja “b” por causa dos estudos bíblicos, à igreja “c” porque a reunião de oração é muito boa. Só que você se esquece de que a igreja “a” só tem um louvor bom e inspirador porque um grupo de irmãos comprometidos está ensaiando o domingo inteiro enquanto você assiste TV ou está em alguma atividade de lazer.

A igreja “b” tem bons estudos bíblicos porque pastores e mestres gastam horas em cima de um texto, pesquisando ou lendo comentários enquanto você se esparrama no sofá para assistir o seu programa favorito.

Se todo mundo pensar que pode viver uma vida espiritual pulando de galho em galho, ao bel prazer de suas preferências pessoais, não sobrará ninguém para realizar a obra.

Esses são os parasitas que vivem na periferia da fé: são como ciganos ou hippies, que criticam o sistema para não assumir responsabilidades, mas usufruem de todos os benefícios que esse mesmo sistema lhes oferece. Não que o sistema seja perfeito e não tenha suas injustiças. É que eles mesmos não estão dispostos a mover uma palha para ajudar a melhorar as coisas.

Virou moda, agora, criticar a igreja e depois sair para comunidades liberais, descomprometidas com uma caminhada de responsabilidades recíprocas. Em geral, essa atitude é gerada por pessoas que cometem seus deslizes e depois recusam a submeter-se ao devido tratamento.

Assumem a postura hipócrita de “se alguém nunca errou que atire a primeira pedra”, como se isso justificasse seus próprios erros. Erram quando tentam defender uma graça que aceita tudo, perdoa tudo, restaura tudo. Esta não é a graça da Bíblia.

O amor de Deus é incondicional, mas o seu perdão não. Para ser perdoado, o pecador precisa aceitar os termos que Deus estabelece. Não há perdão de pecado sem confissão e arrependimento.

E o que é mais grave: tem muita gente querendo que a igreja alise seus pecados, engula seus podres e passe por cima deles, sem passar pelo processo necessário para sua restauração.

É hora de rever em que tipo de Evangelho cremos e se estamos nele vivendo, já que disso depende a mensagem que pregamos, o que, por sua vez, vai determinar o tipo de “crentes” que vamos ter em nossas igrejas.

Saia da letargia espiritual, da periferia da fé, do comodismo fútil e da religiosidade vazia. Deixe de ser morno em relação às coisas espirituais! Mergulhe no oceano do Espírito, permitindo que o poder de Deus flua através de todo o seu ser, produzindo frutos que saltem para a vida eterna!




Autor: Pr. Araripe Gurgel


Igreja Cristã da Trindade






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