Pois
Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de
equilíbrio. Portanto, não se envergonhe de testemunhar do Senhor, nem de
mim, que sou prisioneiro dele, mas suporte comigo os meus sofrimentos
pelo evangelho, segundo o poder de Deus… (2 Timóteo 1.7-8)
Paulo lembra a Timóteo que “Deus não
nos deu espírito de covardia”, ou espírito de timidez, “mas [um
espírito] de poder”, de amor e de equilíbrio”, isto é, um espírito de
sobriedade, autocontrole e autodisciplina. É comum inferir disso que
Timóteo fosse uma pessoa tímida. O texto permite essa possibilidade, mas
não sugere-a diretamente. Antes, a inferência é feita a partir do texto
devido à suposição particular de que quando Paulo diz algo, isso
significa que precisamente o oposto está sendo crido ou praticado entre
os seus leitores.
Isto é, se Paulo admoesta os cristãos a
viverem em paz uns com os outros, então isso deve significar que há
discórdia entre eles. Repetindo, isso é possível, mas a menos que o
texto declare que seus leitores têm esse problema, o intérprete não tem o
direito de inferir que esse deve ser o contexto histórico por detrás da
passagem. Como em outros casos, nenhum contexto histórico é requerido
para entender apropriadamente a admoestação, e que os crentes deveriam
viver em paz é um ensino geral que é sempre aplicável.
É um insulto ao apóstolo assumir que
quando ele encoraja alguém, é somente porque o oposto está acontecendo.
Se você encorajar alguém somente quando ele obviamente precisa disso,
então você não é um cristão muito bom, ou mesmo um bom amigo. Você diz a
alguém para ter coragem somente quando ele está temeroso? Onde você
estava antes dele ficar com medo?
E mais, Paulo não contrasta apenas
timidez com poder, mas diz que Deus nos deu um espírito de poder, de
amor e de autocontrole. Assumir que o contexto histórico é sempre o
oposto do que Paulo diz requer de nós crermos que Timóteo não era apenas
uma pessoa tímida, mas que ele também era cheio de ódio e fora de
controle. Não há nenhuma evidência que ele fosse tal pessoa, e parece
que os comentaristas não ousam ir tão longe. A suposição ridícula é
arbitrariamente aplicada, e abandonada quando a implicação se torna
muito forçada pelo padrão do intérprete. A falta de validade lógica em
fazer inferências e a falta de consistência em sua aplicação torna a
suposição inútil como um princípio de interpretação bíblica.
É possível que Timóteo fosse muito
tímido, mas não sabemos isso. O texto não nos diz. O que sabemos é que
Paulo tinha sido aprisionado, que havia inimigos que se opunham ao
evangelho, e que mesmo alguns que serviram a causa com o apóstolo tinham
agora o abandonado. Sabemos tudo isso porque esta carta nos diz tudo
isso. É mais apropriado associar isso com o encorajamento de Paulo para
Timóteo permanecer firme. Face a esse ambiente cruel e tendências
desfavoráveis, Paulo adverte Timóteo para não sucumbir à pressão. Quer
Timóteo esteja em perigo de sucumbir à pressão ou não é inteiramente
incerto, e isso é inteiramente sem importância para um entendimento
correto da carta.
Paulo contrasta timidez com poder, amor e
autocontrole, ou a capacidade de dominar ou possuir seus próprios
pensamentos e emoções. O contraste sugere os tons de significados dados a
essas palavras. Dessa forma, o “poder” não se refere ao poder de
realizar milagres, mas à coragem espiritual e moral.
Podemos até ser mais específicos que
isso. O versículo 8 diz: “Portanto, não se envergonhe de testemunhar do
Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro dele”. Isso nos diz o que Paulo
tinha em mente quando fala sobre timidez e poder. Ser tímido é ficar
embaraçado em testificar sobre o Senhor Jesus, dizer às pessoas o que
você sabe sobre ele, e o que elas precisam crer sobre ele. É ser muito
receoso de dizer às pessoas quem ele é, o que veio fazer, e que embora
tenha morrido, ele ressuscitou dentre os mortos, e que está agora vivo e
detém todo poder, e julgará todos os homens.
Então, embora saibamos que somente
Cristo mereça nosso culto e adoração, e que todos os seus ministros são
apenas meros homens, Deus arranjou relações humanas entre o seu povo
para que eles possam servir sua causa com sua força e talentos
combinados, e um senso de solidariedade como companheiros que são servos
de Cristo. Ser um covarde é ficar embaraçado demais para apoiar e se
identificar com o povo de Deus, especialmente aqueles que são
perseguidos por proclamar o evangelho de Jesus Cristo. É temer
reconhecer nossa associação com os mestres da fé.
Os cristãos não têm nenhuma razão para
ficar embaraçados. Não temos feito nada de errado em crer e pregar a
Jesus Cristo. Nossa fé não nos torna inferiores, ou menos inteligentes
ou éticos. De fato, é um insulto ao Senhor ficar embaraçado. Nossa fé
está nele, não em nós mesmos. E nossa mensagem é sobre ele, não sobre
nós mesmos. Jesus deveria se envergonhar dele mesmo? Ele deveria ficar
embaraçado sobre o que disse e o que fez quando esteve sobre a Terra?
Ele deveria pedir desculpar por sua posição e ministério atual? O que
ele tem feito de errado?
Não, a fé cristã é o único sistema de
crença verdadeiro e racional. Mesmo o zênite da inteligência e
habilidade humana não podem se comparar a ela, visto que como a
Escritura diz, até a loucura de Deus é mais sábia que a sabedoria
humana, e a fraqueza de Deus é mais forte que a força do homem (1
Coríntios 1.25). Para o cristão, essa sabedoria da parte de Deus não é
ilusória, mas nos foi dada mediante o evangelho (1 Coríntios 1.18-24),
de forma que inclusive temos “a mente de Cristo” (1 Coríntios 2.16).
Dessa forma, os não cristãos estão na posição inferior. Eles são os
tolos e ímpios. Eles são aqueles que deveriam ficar embaraçados. E
quando o Espírito de Deus usa nossa pregação para abrir os seus olhos,
isso é o que acontece – eles se envergonham de si mesmos. O Espírito
traz convicção aos seus corações, de forma que eles podem finalmente ver
a si mesmos pelo que são.
Certo comentarista diz que o Espírito
não transforma uma pessoa tímida numa personalidade poderosa, mas que
ele nos dá o suficiente para cada situação. Besteira! O mesmo
comentarista não diz que Deus nos dá apenas o amor suficiente para cada
situação, que ele fará de cada crente nada mais que uma pessoa muito
pouco amável. Paulo diz que Deus nos dá um espírito de poder! Ele deu a
você um espírito diferente daquele com o qual você nasceu, e trocou sua
timidez natural por coragem e força. Talvez a observação desse
comentarista seja mais autobiográfica que expositiva.
O Senhor não é um Deus do suficiente,
mas um Deus de abundância. Quando Jesus alimentou cinco mil pessoas com
cinco pãezinhos, quantos cestos com pedaços de pães sobraram? E quando
ele alimentou quatro mil pessoas com sete pãezinhos, quantos cestos com
pedaços de pães sobraram? Ainda não entendeu?
Fonte: Reflections on Second Timothy
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto
Fonte: Monergismo - Ao SENHOR pertence a salvação !
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