segunda-feira, 29 de novembro de 2010

COMO DISCIPULAR UM TRANSEXUAL (PARTE 2)


O problema é que nem sempre acreditamos que o evangelho seja relevante para os cristãos. Sempre pensamos no evangelho no contexto do evangelismo. Pensamos no evangelho como o ABC do cristianismo, o ponto de partida, aquilo que os não-crentes precisam ouvir, a porta pela qual você entra no cristianismo. Uma vez que você está dentro, você deve ir além do evangelho, deve ir para as horas silenciosas, livros religiosos, CDs de adoração.

Ryan tinha certeza de que, na nossa concepção, estávamos “dentro” e ele estava “fora”. Ele sabia que, aos olhos do cristão comum, ele era um cara realmente mau, um transexual acima de qualquer coisa! Então Ryan constantemente orientava a conversa para seu estilo de vida, a única coisa que parecia mantê-lo “fora” aos olhos da maioria dos cristãos. Ele foi à igreja gay da cidade, mas lhe disseram que seu estilo de vida não importava. Aparentemente, ele estava tentando que dissesse algo semelhante: “Tudo bem ser transexual, você pode seguir a Jesus assim mesmo.” Mas, mais profundamente, eu sentia uma questão muito mais poderosa em jogo: “Eu sou quebrado, mais pecaminoso, mais desesperançado do que você?”.

Então, eu mudei o rumo da conversa. Mudei o foco do estilo de vida dele para nosso pecado comum e para a rebelião de toda a humanidade contra Deus. Eu lhe disse que o real problema não era sua confusão sexual, mas o seu pecado. Ele queria ouvir que ele era pior do que o seu vizinho. Eu lhe disse que ele não era. Então, eu peguei minha bíblia e o levei a ler em voz alta alguns dos mais famosos versos sobre pecado. Focalizei no fato de que todos pecaram, todos se voltaram contra Deus, que todos precisam ser reconciliados com o criador. Nossos pecados externos podem ser diferentes uns dos outros, mas nossos corações são sempre maus igualmente. Então, fui um passo à frente: Falei do meu próprio pecado.

“Ryan, quer saber sobre mim? Sou um louco por controle. Eu sempre quero ter tudo sob meu controle. Gosto de me colocar no lugar de Deus e tentar controlar os resultados. Sou grosso e áspero com minha esposa e filhos. Sou julgador quando as pessoas não vivem de acordo com minhas regras e padrões. Eu não consigo amar as pessoas como Jesus as ama. Eu amo as pessoas nos meus próprios termos, do jeito que eu acho que elas merecem ser amadas, baseado nos meus critérios. Eu trato mal e fico com ressentimentos quando as pessoas não enxergam as coisas da mesma forma que eu. Eu me curvo e acabo me vendendo ao ídolo Controle. Ryan, eu sou um pecador, e Jesus é minha única esperança.”

De repente, Ryan começou a ficar mais tranquilo. A conversa mudou completamente. Ele caiu de joelhos e, em lágrimas, confiou em Jesus ali mesmo, no meio da cafeteria. (Na verdade, ele não fez isso não. Mas esse era o final que você estava esperando, não é? Pare imediatamente!) A conversa realmente mudou completamente, porque Ryan entendeu que seu estilo de vida era uma questão secundária. Ali eu estava, um pastor heterosexual, casado, dizendo a ele que meu coração era tão sujo, pecaminoso e quebrado como o dele. A única diferença era que eu confiava em Jesus para me reconciliar com Deus e transformar meu coração, e ele não confiava.

Somos muito bons em dizer aos não-cristãos que eles precisam de Jesus. Nenhum cristão realmente sábio viraria para o Ryan e diria, “Mude o seu estilo de vida primeiro, depois nós poderemos trabalhar com seu coração.” Nós sabemos que uma mudança interior mais profunda deve vir primeiro; faça com que a árvore seja boa, então seu fruto será bom (veja Mt 12:33). Então, porque não pensamos da mesma forma no discipulado?

O evangelho não é o ABC do cristianismo; ele é o A a Z do cristianismo. Quando nos esquecemos do evangelho, traímos nossos discípulos. Damos a impressão de que ser seguidor de Jesus significa ser menos quebrantado, menos pecador, menos desesperançado. Então, criamos um sistema de castas cristão: existem os realmente pecadores (não-crentes), os ainda pecadores (novos convertidos), e as pessoas que fingem que não são pecadoras (cristãos maduros).

Isso não só é obviamente não-bíblico, mas é também contrário ao senso comum. Jesus disse que aqueles que são muito perdoados irão amar muito (Lucas 7:47). Os cristãos maduros de verdade não são aqueles que pensam que são menos pecadores, mas aqueles que percebem a profundidade do seu pecado e estão se apegando mais firmemente em Jesus como sua única esperança.

Para testar essa verdade, simplesmente pergunte-se como a minha conversa com Ryan seria diferente se eu simplesmente tivesse dito, “É, você está realmente perdido, mas as boas notícias são que, se você confiar em Jesus, você poderá ser tão bom quanto eu sou.” Você pode ser esperto o suficiente (ou políticamente correto o suficiente) para não dizer isso a um transexual. Mas se o seu discipulado não for fundamentado no evangelho, é exatamente isso que você está dizendo aos seus liderados.

Por Bob Thune. © The Gospel Coalition. Website: thegospelcoalition.org

Tradução: Iprodigo.com

Fonte: http://voltemosaoevangelho.blogspot.com/

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