A entrevista que passava no rádio do meu
carro era bastante padrão. O apresentador de um programa cristão estava
entrevistando um astro da música cristã muito popular — algo que não me
interessava muito enquanto eu dirigia pela rodovia. Mas então a
discussão entrou no tópico de servir ao Senhor no ministério. O músico
contou a todos os ouvintes como seu irmão havia sido um caminhoneiro,
mas abandonou o trabalho para servir ao Senhor como pastor assistente.
Isso atraiu uma calorosa afirmação do apresentador, que estava na
verdade rindo da comparativa insignificância de ser caminhoneiro. O
astro musical então contou suas palavras congratulatórias a seu irmão:
“Eu sempre soube que havia mais em você do que ser um caminhoneiro.”
Há 3.2 milhões de caminhoneiros nos Estados Unidos.
Eu desliguei a entrevista e dirigi silenciosamente pela rodovia, imaginando: O
que estão sentindo agora os caminhoneiros que ouviram isso? Um
superastro cristão acaba de sugerir que 3.2 milhões de caminhoneiros são
menos significantes do que pastores assistentes.
Uma massiva questão agora paira no ar —
uma questão com profundas implicações para a significância de sua vida e
vocação: Os caminhoneiros — os mesmos caminhoneiros que transportam
nossa comida, nossas roupas, nossos materiais de construção, e nossos
sistemas de som da igreja — menos significantes para Deus?
Definitivamente, a única medida real de
significância é o quanto algo ou alguém é valorizado por Deus. Mas
muitas pessoas por engano creem que Deus só valoriza trabalho
ministerial, porque lida com almas eternas. Em suas mentes, o ministério
é o único trabalho que conta para a eternidade. Assumem que Deus
atribui pouco valor no trabalho que lida com coisas temporais do
dia-a-dia, se é que atribui algum valor. A posição implícita de nossas
vocações é óbvia. Além disso, quando alguém que sustenta essa posição
não tem cuidado com as palavras, soa como se estivesse aplicando aquela
mesma posição ao valor individual de cada pessoa para Deus. Nosso
superastro provavelmente não quis sugerir que caminhoneiros sejam menos
significantes para Deus, mas foi isso que muitos de nós ouvimos.
Chamado Superior?
Eu já ouvi centenas de testemunhos
similares em seminários, conferências e igrejas por todo o continente.
Você provavelmente também já ouviu. Missionários, pastores, e membros de
equipes de salvamento elevam-se e nos contam sobre o salto de quase
toda profissão imaginável. Eles responderam ao “chamado superior” do
ministério de tempo integral. Eles abandonam seus empregos no mercado
para fazer algo significativo — algo “para o Senhor.” Enquanto isso,
todo o resto do mundo, a mão de obra remanescente, olha para o alto a
partir de um banco de igreja e ouve as histórias — histórias
frequentemente ornamentada com o desprezo ao antigo trabalho “sem
sentido” do orador.
Os públicos às vezes afirmarão a decisão
do orador de saltar “do sucesso ao significado” oferecendo um “Amém!”
ou “Aleluia!” Eles podem até mesmo dar ao orador uma salva de palmas.
Mas o que o caminhoneiro — aquele sentado em silêncio nove bancos atrás,
o terceiro da esquerda — está sentindo naquele momento? E o piedoso
contador, o engenheiro, o vendedor de varejo, o gerente bancário, e
todas as outras pessoas que levantarão cedo na manhã seguinte se
dedicarão a trabalhos iguaizinhos ao que o orador renunciou — o que
todos eles devem sentir naquele momento?
Eles me contaram. Eu ouvi sua frustração,
suas histórias não reconhecidas, e às vezes seu desespero. Sabe, eu já
fui aquele orador — aquele em pé no palco recebendo os aplausos. Eu sou
um ex-diretor financeiro que se tornou um missionário e então de alguma
maneira acabou fazendo palestras públicas também. Sempre que eu falo, eu
fico mais um tempo depois e converso com indivíduos da plateia sobre
suas questões e preocupações específicas. Como resultado, eu tive
incontáveis conversas com pessoas buscando uma resposta para a questão
do significado. Eles sentam naqueles bancos e imaginam: Eu perdi meu
chamado na vida? O trabalho da minha vida é insignificante para Deus? O
ministério é a única maneira de impactar a eternidade? Às vezes eles olham para baixo em resignação e culpa — culpa vocacional. Mas essa culpa é uma mentira.
A Belíssima Verdade
A verdade é belíssima. A verdade é que o
trabalho comum, diário, terreno da vida cristã possui um significado de
tirar o fôlego outorgado pelo toque da magnífica glória de Deus. Deus
tira a ardente eternidade fundida da forja de sua soberania. Depois,
como um mestre a seu aprendiz, ele confia o martelo às nossas mãos
(Eclesiastes 9:10; Colossenses 3:17, 23; 1 Coríntios 10:31; 2
Tessalonicenses 3:6-12). Ele diz: “Bata! Bata bem aqui. Este é o seu
lugar. É aqui que eu quero que você influencie a eternidade. Viva a vida
que eu lhe dei para viver.” E então, em balbuciante reverência, nós
tomamos o martelo. Nós vivemos nossas vidas — nossas comuns, diárias e
árduas vidas. O martelo cai. Faíscas voam. A eternidade dobra, e o
Mestre está satisfeito (Mateus 25:21).
Deus, o Criador do universo, destina
nossas vidas diárias para fazer uma diferença? Isso aí. Filtros de
combustível, declarações de imposto de renda, roupa suja, e churrasco
gaúcho são importantes para ele? É isso aí (especialmente churrasco
gaúcho). Uma vida como um engenheiro, um florista, ou um corretor de
imóveis guiados pelo evangelho pode ser tão significante para Deus
quanto a vida de um pastor, um missionário ou um salva-vidas
humanitário? Com certeza.
Há algo massivo acontecendo aqui — a
épica história cósmica de Deus — e nós estamos bem no meio dela. Ele
sabe o seu nome e o meu. Ele deu a cada um de nós uma vida para viver —
uma vida comum e diária — um lugar particular para que nós moldemos a
eternidade (Filipenses 1:27; Colossenses 1:10; 1 Tessalonicenses 2:12;
4:11; 2 Tessalonicenses 3:6-12).
Você e eu olhamos para nossas vidas
ordinárias e pensamos: “Sério? Isso deveria ser épico?” Mas o Mestre se
agrada dela. Ele forja sua obra prima com ela. E quando virmos o que ele
fez com ela, ficaremos surpresos (1 Coríntios 2:9). Vai emocionar as
almas dos homens, deslumbrar os anjos, agradar o coração de Deus, e
glorificar seu nome. Para sempre.
Este excerto foi adaptado do novo livro de Paul Rude Significant Work: Discover the Extraordinary Worth of What You Do Every Day (Trabalho Significativo: Descubra o Valor Extraordinário do que Você Faz Diariamente) (Everyday Significance, 2013).
Paul Rude é consultor ministerial, palestrante, e fundador da Everyday Significance,
uma organização dedicada a ajudar as pessoas a conectar a fé
cristocêntrica ao dia-a-dia. Antes de fundar a Everyday Significance,
Paul passou oito anos trabalhando em missões como líder de ministério.
Antes disso, ele passou uma década na adrenalina no mercado corporativo
da Fortune 500 — e adorava. Quando ele não está palestrando ou
consultando, você pode encontrá-lo passeando de jangada ou escalando
montanhas. Paul vive na região rural do Alaska com sua esposa e seus
cinco filhos.
Por: Paul Rude. Copyright © 2013 The Gospel Coalition, Inc. Todos os direitos reservados. Original: http://thegospelcoalition.org/blogs/tgc/2013/01/15/do-truck-drivers-matter-to-god/