Nº 292
Sermão pregado na manhã de Domingo, 1º de Janeiro de 1860,
por Charles Haddon Spurgeon.
Em Exeter Hall, Strand, Londres.
“Mas o Deus de toda a graça, que nos chamou à sua glória eterna em Jesus Cristo, depois que tenhais padecido um pouco de tempo, ele mesmo os aperfeiçoe, confirme, fortaleça e estabeleça.”
1 Pedro 5:10.
1 Pedro 5:10.
O apóstolo Pedro passa da exortação para a oração. Ele sabia que a oração marca o fim da pregação no ouvinte, mas que a pregação do ministro deve ir sempre acompanhada de oração. Havendo exortado os crentes a caminhar com firmeza, dobra os seus joelhos e os encomenda a vigilância zelosa do céu, implorando sobre eles uma das maiores bênçãos que o coração mais afetuoso alguma vez haja suplicado.
O ministro de Cristo deve exercer dois ofícios ao povo que está ao seu cargo. Deve lhes falar por Deus e falar a Deus por eles. O pastor não terá cumprido todavia com toda a sua sagrada comissão quando houver declarado todo o conselho de Deus. Somente haverá cumprido uma metade. A outra parte deverá desempenhar em segredo, quando carregar em seu peito, como o sacerdote nos tempos antigos fazia, as necessidades, os pecados, as provações e as súplicas de seu povo diante de Deus. O dever diário do pastor cristão consiste por um lado em orar por seu povo, e por outro em exortar, instruir e consolar a esse povo.
Há, contudo, situações especiais quando o ministro de Cristo se vê constrangido a pronunciar uma bênção incomum sobre seu povo. Quando um ano de tribulação passa e outro ano de misericórdia começa, podemos expressar nossos sinceros agradecimentos por Deus ter nos preservado, e nossas fervorosas súplicas por milhares de bênçãos sobre as cabeças daqueles a quem Deus encomendou debaixo do nosso cuidado pastoral.
Esta manhã tomei este texto como uma bênção de ano novo. Vocês sabem que um ministro da Igreja da Inglaterra sempre me proporciona o tema para o novo ano. Ele ora muito antes de seleccionar o texto, e eu sei que hoje, está oferecendo esta precisa oração por todos vocês. Ele constantemente me favorece com um tema, e sempre considero meu dever pregar sobre ele, e desejar que meu povo o recorde ao longo de todo o ano para que sirva de apoio no tempo de sua tribulação, como um delicioso manjar, como uma bolacha com mel, como o pedaço do alimento de um anjo, que possa pôr sobre a sua língua e levá-lo até que finalize o ano, para logo recomeçar com outro doce texto. Que bênção maior poderia ter escolhido meu amigo ancião, de pé hoje em seu púlpito, levantando mãos santas para pregar ao povo em uma pacífica igreja camponesa? Que bênção maior poderia implorar ele para os milhares de Israel, que esta bênção que em seu nome pronuncio sobre vocês neste dia: “Mas o Deus de toda a graça, que nos chamou à sua glória eterna em Jesus Cristo, depois que tenhais padecido um pouco de tempo, ele mesmo os aperfeiçoe, confirme, fortaleça e estabeleça.”
Ao pregar sobre este texto, terei que explicar: primeiro o que o apóstolo pede ao céu; e logo, em segundo lugar por quê espera recebê-lo. A razão de sua esperança, de receber o que pede, está contida no título que utiliza para dirigir-se ao Senhor seu Deus: “MAS O DEUS DE TODA A GRAÇA, que nos chamou à sua glória eterna em Jesus Cristo”.
I. Então, em primeiro lugar, O QUE O APÓSTOLO PEDE PARA TODOS AQUELES A QUEM ESCREVEU ESTA EPÍSTOLA. Ele pede para eles quatro jóias resplandecentes colocadas sobre um negro pano de realce. As quatro jóias são estas: Perfeição, Confirmação, Fortalecimento e Estabelecimento. O negro pano de realce sobre o qual estão colocadas é este: “Depois que tenhais padecido um pouco de tempo.” As lisonjas do mundo valem pouco, pois como observa Chesterfield: “Não custam nada exceto tinta e papel.” Devo confessar que creio que inclusive este pequeno gasto é um grande desperdício. As lisonjas mundanas geralmente omitem toda a ideia de aflição. “Um feliz Natal! Um próspero Ano Novo!” Não há nenhuma suposição de algo que se pareça ao padecimento. Mas as bênçãos cristãs apontam a verdade dos assuntos. Sabemos que os homens devem padecer. Cremos que os homens nascem para serem acumulados de dores da mesma maneira que a faísca nasce para voar ao alto; e por isso em nossa bênção incluímos o padecimento. E mais, vamos mais além, cremos que nossa tristeza nos ajudará a alcançar a bênção que invocamos sobre nossas cabeças. Nós, no vocabulário de Pedro, dizemos: “Depois que tenhais padecido um pouco de tempo, ele mesmo os aperfeiçoe, confirme, fortaleça e estabeleça”. Entendam então que, conforme eu mostre cada uma destas quatro jóias, devem observá-las e considerar que são desejadas para vocês, “depois que tenhais padecido um pouco de tempo”.
1. Agora a primeira jóia resplandecente neste diadema é a Perfeição. O apóstolo ora para que Deus nos aperfeiçoe. Certamente, ainda que esta seja uma oração para um longo período de tempo, e a jóia seja um diamante de belas águas e de tamanho excepcional, é absolutamente necessário que um cristão em última instância chegue à perfeição. Acaso nunca tiveram um sonho em suas camas, quando seus pensamentos vagueiam livremente e a boca de sua imaginação corre sem freio, e sua alma abre suas asas e flutua por todo o infinito, agrupando coisas estranhas e maravilhosas, de tal maneira que o sonho se desenvolvia em algo como um esplendor sobrenatural? Mas, subitamente foram despertados, e vocês lamentaram durante horas que o sonho não tivesse chegado a uma conclusão. E o que é um cristão, que não chega a perfeição, senão um sonho não concluído? Um sonho majestoso de todas as maneiras, e certamente, cheio das coisas que a terra não teria conhecido antes, se não fosse porque são reveladas pelo Espírito à carne e ao sangue.
Mas suponhamos que a voz do pecado nos espantasse antes que o sonho se concluísse, e como cada um se desperta, perdêssemos a imagem que começou a se formar em nossas mentes, o que seria de nós então? Remorsos eternos e uma multiplicação do tormento eterno seriam o resultado de haver começado a ser cristãos, se não alcançássemos a perfeição. Se pudesse existir tal coisa como um homem em quem se começou a obra da santificação, mas em quem Deus no Espírito cessou de operar; se pudesse existir um ser tão infeliz como para ser chamado pela graça para ser abandonado antes de ser aperfeiçoado, não haveria entre os condenados no inferno desventurado mais infeliz. Não seria uma bênção que Deus começasse a abençoar se não levasse à perfeição. Seria a maior maldição que a ira Onipotente poderia pronunciar: dar para um homem a graça, mas que essa graça não o conduzisse até o fim e não o pusesse com segurança no céu.
Eu devo confessar que preferiria suportar os tormentos desse terrível arcanjo, Satanás, por toda a eternidade do que ter que sofrer como alguém a quem Deus uma vez amou, mas a quem depois reprovou. Mas isso não acontecerá jamais. A quem uma vez escolheu, Ele não o rejeitará. Sabemos que onde Ele começou uma boa obra, a aperfeiçoará até o dia de Jesus Cristo. Grandiosa é a oração, então, na qual o apóstolo pede que sejamos aperfeiçoados. O que seria de um cristão se não fosse aperfeiçoado? Nunca viram um painel sobre o qual a mão do pintor tenha esboçado com atrevido pincel alguma cena maravilhosa de grandeza? Vêem onde a viva cor tenha sido pintada com uma habilidade quase sobre-humana. Mas o artista caiu morto repentinamente e a mão que desenhou milagres de arte ficou paralisada e o pincel caiu. Acaso não é fonte de lamentos no mundo que alguma vez se tenha começado uma pintura que não pôde jamais ser terminada? Não viram o humano semblante divino em um relevo talhado em mármore? Viram a elegante habilidade do escultor e disseram a vocês mesmos: ‘Isto será algo maravilhoso!’ Que demonstração sem par de habilidade humana! Mas, Ah! Nunca foi completada, não se pôde terminar. E poderiam imaginar, qualquer um de vocês, que Deus começara a esculpir um ser perfeito e que não o terminara? Pensam que a mão da sabedoria divina esboçaria ao cristão sem completar seus detalhes? Acaso Deus nos tomou da pedreira como uma pedra sem lavrar, e começou a esculpir em nós, e a mostrar Sua arte divina, Sua maravilhosa sabedoria e graça, para logo nos lançar fora? Acaso Deus falhará? Deixará, por acaso, que Suas obras sejam imperfeitas? Leitores, mostrem se podem, algum mundo que Deus haja abandonado sem poder terminar. Há alguma partícula em Sua criação na qual Deus tenha começado a construir algo, mas que tenha sido incapaz de concluir? Acaso deixou incompleto algum anjo? Há, por acaso, uma só criatura da qual não se possa dizer: “É muito boa?”
E se dirá da criatura formada duas vezes: do eleito de Deus, do comprado com sangue, acaso se dirá: “O Espírito começou a operar no coração deste homem, mas o homem foi mais poderoso que o Espírito, e o pecado venceu a graça; Deus teve que fugir e Satanás triunfou, e o homem nunca foi aperfeiçoado?” Oh, meus queridos irmãos, a oração será ouvida. Depois que tenhais padecido um pouco de tempo, Deus os aperfeiçoará, se Ele começou a boa obra em vocês.
Mas, amados, deve ser depois que tenham padecido um pouco de tempo. Não poderão ser aperfeiçoados, exceto pelo fogo. Não há outra forma de lhes tirar a sua escória e suas impurezas senão por meio das chamas da fornalha da aflição. Filhos de Deus, vossa insensatez está tão ligada a seus corações, que nada senão a vara pode extirpá-la. É através das marcas de seus ferimentos que seu coração é melhorado. Devem passar pela tribulação para que, por meio do Espírito, possa funcionar como fogo purificador para vocês; para que uma vez purificados, santos, acrisolados, e lavados, compareçam diante da face de Deus, isentos de toda imperfeição, e livres de toda corrupção interna.
2. Prossigamos agora para a segunda jóia de bênção: Confirmação. Não é suficiente que o cristão tenha recebido um aperfeiçoamento proporcional, se não é confirmado. Vocês já viram um arco-iris no céu quando se faz visível pela planície: suas cores são gloriosas, e suas nuances são excepcionais. Ainda que o tenhamos visto muitíssimas vezes, nunca deixa de ser “algo belíssimo e um gozo constante.” Mas que lástima do arco-íris, não está confirmado. Se desvanece e aqui já não está. As belas cores cedem passo às nuvens carregadas e a abóbada celeste já não brilha com as tinturas do céu. Não está confirmado. Como pode ser isto? Algo que está feito de raios passageiros do sol e gotas instáveis da chuva, como poderia permanecer? E fixem nisto, quanto mais bela é a visão, mais desconsolada é a reflexão quando essa visão se desvanece, e não fica nada senão escuridão.
Então, ser confirmado é algo extremamente desejável para o cristão. De todas as concepções conhecidas de Deus, junto ao Seu Filho encarnado, não duvido em pronunciar ao cristão a mais nobre concepção de Deus. Mas se esta concepção não fosse senão um arco-íris pintado na nuvem, para desaparecer para sempre, não valeria nada o dia em que nossos olhos foram atraídos para ver o inatingível, com uma sublime visão que logo se vai derreter. O cristão não é melhor que a flor do campo, que hoje está e que se seca quando se levanta o sol com calor abrasador, a menos que Deus o confirme. Qual é a diferença entre o herdeiro do céu, o filho de Deus comprado com sangue, e a erva do campo?
Oh, que Deus lhes outorgue esta rica bênção, para que não sejam como o fumo de uma chaminé, que é rapidamente dispersado pelo vento: que sua bondade não seja como a nuvem da manhã, nem como o orvalho temporão que se evapora; senão que sejam confirmados, e que cada bem que tenham seja um bem permanente. Que seu carácter não seja como as letras escritas sobre areia, senão uma inscrição na rocha. Que sua fé não seja como “a urdidura sem marco de uma visão,” senão que esteja construída com material de pedra que aguentará esse horrível incêndio que consumirá a madeira, o feno e a ninhada do hipócrita. Que estejamos cimentados e arraigados no amor, que suas convicções sejam profundas. Que seu amor seja real. Que seus desejos sejam sinceros. Que sua vida inteira esteja estabelecida, fixada e confirmada, para que todos os fortes ventos do inferno e todas as tormentas da terra sejam incapazes de lhes perturbar.
Vocês sabem que consideramos que alguns cristãos estão bem confirmados há muito tempo. Tenho temor, na verdade, que hajam muitos que são velhos, mas que não tenham sido confirmados. Uma coisa é ter o cabelo branco pelos anos, mas outra coisa muito diferente é que obtenhamos sabedoria. Há alguns que não se tornam mais sábios apesar de toda a sua experiência. Ainda que seus dedos estejam bem cobertos pela experiência, não aprenderam nessa escola. Sei que há muitos velhos cristãos que podem dizer de si mesmos, e dizê-lo também com muita tristeza, que gostariam de voltar a ter suas oportunidades, para poder aprender mais, e poder estar mais confirmados. Lhes ouvimos cantar:
“Descubro que sou um aprendiz, todavia,
Incapaz, débil e pronto para errar.”
Sem dúvidas, eu oro para que a bênção do apóstolo seja derramada em nós, independentemente que sejamos jovens ou velhos, mas especialmente naqueles que têm conhecido por muito tempo ao seu Senhor e Salvador. Vocês não devem estar sujeitos agora a essas dúvidas que maltratam aos bebês na graça. Não se lhes deve estar ensinando sempre os primeiros rudimentos: devem prosseguir para algo mais elevado. Estão se aproximando do céu; oh, a que se deve que não tenham chegado todavia a terra prometida, a essa terra que mana leite e mel? Certamente suas titubeações não combinam com os cabelos grisalhos. Dá a impressão que foram branqueando com a luz do sol do céu. Como é possível que seus olhos não dispensem algo dessa luz? Nós que somos jovens buscamos um exemplo em vocês, que são cristãos bem confirmados; e se lhes vemos duvidar, e lhes ouvimos falando com lábios temerosos, então nos abatemos de um alto degrau. Oramos por nós e por vós, para que esta bênção se cumpra em vocês, para que possam ser confirmados. Para que não se exercitem mais na dúvida. Para que conheçam seus interesses em Cristo. Para que se sintam seguros Nele. Para que descansando na rocha das eras possam saber que não perecerão enquanto estiverem fixados ali. De fato oramos por todos, independentemente de sua idade, para que nossa esperança esteja posta unicamente no sangue e na justiça de Jesus, e que esteja tão firmemente arraigada, que não seja sacudida jamais, senão que sejamos como o monte Sião, inabalável e que permanece para sempre.
Desta maneira tenho explicado sobre a segunda jóia desta bênção. Mas, lembrem-se, não podemos obtê-la senão depois de haver padecido um pouco de tempo. Não podemos ser confirmados exceto por meio do padecimento. É inútil esperar que estaremos bem arraigados sem que os ventos de Março não tenham soprado sobre nossas cabeças. Não esperemos que o jovem carvalho lance suas raízes tão profundamente como o carvalho velho. Esses velhos laços nas raízes, essas estranhas quebras dos galhos, todos falam das muitas tormentas que hão açoitado à antiga árvore. Mas são indicadores também das profundezas a que se submergiram as raízes; e todos dizem ao lenhador que espere partir primeiro uma montanha que arrancar esse carvalho de raízes. Devemos padecer um pouco de tempo, para logo sermos confirmados.
3. Agora vamos comentar a terceira bênção, que é o Fortalecimento. Ah, irmãos, esta é uma bênção muito necessária para todos os cristãos. Há alguns que parecem estar fixados e confirmados. Mas todavia carecem de força e de vigor. Me permitem dar-lhes um retrato de um cristão sem forças? Ali o têm. Ele tem apoiado a causa do Rei Jesus. Se vestiu de sua armadura; se alistou no exército celestial. Podem observá-lo? Está perfeitamente armado da cabeça aos pés, e leva consigo o escudo da fé. Podem ver também quão firmemente está confirmado? Mantém seu lugar, e não será movido dali. Mas, vejam-no, Quando usa sua espada, golpeia com pouquíssima força. Seu escudo, ainda que o sustenha tão firmemente como sua debilidade o permita, treme em seu punho. Ali está e não se moverá. Sem dúvidas, quão oscilante é a sua posição. Seus joelhos se chocam com espanto quando ouve o som e o ruído da guerra e do tumulto. Do que precisa este homem? Sua vontade é correcta, e seu coração está posto plenamente nas coisas boas. O que precisa? Necessita força. O pobre homem é fraco e se assemelha à uma criança. Seja que foi alimentado com comida mal temperada e insubstancial, ou por conta de algum pecado que o perseguiu, não tem força nem a vitalidade que deveria habitar um cristão. Mas uma vez que a oração de Pedro seja respondida para ele, quão forte se tornará. Em todo o mundo não há uma criatura tão forte como um cristão quando Deus está com ele.
Fale de Behemot! Não é nada senão algo muito pequeno. Seu poder é fraqueza quando se lhe compara ao crente. Fale de Leviatan! Que faz que o abismo seja branco! Ele não é o chefe dos caminhos de Deus. O verdadeiro crente é mais poderoso que ele. Nunca viram ao cristão quando Deus está com ele? Cheira a batalha desde longe, e clama em meio do tumulto: “Vamos! Vamos! Vamos!” Se ri de todas as hostes inimigas. Ou se comparas com Leviatan: se é arrojado em um mar em tribulação, dá chicotadas por todos os lados e faz que o abismo se torne branco com bênçãos. As profundezas não lhe surpreendem, nem teme as rochas; tem a proteção de Deus ao seu redor, e as águas não podem sufocar-lhe; e mais, se tornam um elemento de deleite para ele, quando por graça de Deus se regozija em meio das altas ondas.
Se querem uma prova de força de um cristão, somente têm que revisar a história, e poderão ver como os crentes apagaram a violência do fogo, fecharam as bocas dos leões, agitaram os punhos diante da pavorosa morte, se riram até do desprezo dos tiranos, e puseram em fuga aos exércitos inimigos, por meio do poder superior da fé em Deus. Rogo a Deus, meus irmãos, que lhes fortaleça este ano.
Os cristãos desta época são pessoas fracas. É algo notável que agora a grande maioria dos filhos nasce débil. Vocês me pedem as evidências disto. Posso fornecê-las de imediato. Vocês sabem que a Liturgia da Igreja da Inglaterra se instrui e se ordena que todos os filhos sejam submersos no batismo, exceto aqueles que tenham uma débil condição certificada. Agora, seria pouco compassivo imaginar que as pessoas sejam culpadas de falsidade quando cumprem o que consideram uma ordenança sagrada; e portanto, como quase todos os filhos são agora borrifados e não submersos, eu suponho que todos nascem fracos. Não vou dizer se isso explica o fato que todos os cristãos sejam tão débeis, mas é certo que não temos muitos gigantes cristãos em nossos dias.
Por aqui e por ali ouvimos de alguém, ao que somente lhe faz falta operar milagres nestes tempos modernos, e ficamos atónitos. Oh, que vocês tivessem fé como estes homens! Não creio que haja mais piedade agora do que se procurava ter nos dias dos puritanos. Creio que há muitos mais homens piedosos; mas enquanto a quantidade se multiplicou, temo que a qualidade tenha sido desprezada. Naqueles dias o ribeiro da graça era na verdade muito profundo. Alguns daqueles velhos puritanos, (quando lemos sobre sua devoção, e sobre as horas que passaram em oração), pareciam ter tanta graça como qualquer centena de nós. O ribeiro era muito profundo. Mas agora as margens perderam sua forma e grandes pastagens foram inundadas pela água. Até ali vamos bem. Mas ainda que a superfície tenha se expandido, temo que a profundidade tenha diminuído espantosamente. E esta pode ser a explicação: que devido a que nossa piedade se tornou mais superficial, nossa força se debilitou. Oh, que Deus lhes fortaleça este ano!
Mas recordem, se Ele o fizer, então terão que padecer. “Depois que tenhais padecido um pouco de tempo,” que Ele lhes fortaleça. As vezes fazem uma operação nos cavalos que alguém consideraria cruel: os cauterizam para fortalecer seus tendões. Agora, cada cristão antes que seja fortalecido deve ser cauterizado. Seus nervos e seus tendões devem ser fortificados com o ferro incandescente da aflição. Nunca serás forte em graça, a menos que primeiro padeças um pouco de tempo.
4. E agora me referirei a última das quatro bênçãos: “Estabelecimento.” Não direi que esta última bênção é maior que as outras três, mas é um degrau para cada uma delas; e é estranho dizê-lo, é muitas vezes o resultado da obtenção gradual das três bênçãos precedentes. “Estabelece-te!” Oh, quantos andam por aí que não se estabeleceram jamais. A árvore que é transplantada a cada semana morrerá rapidamente. E mais, se fosse trocada, não importa quão habilmente, uma vez ao ano, nenhum jardineiro esperaria fruto dela. Quantos cristãos existem que estão sendo transplantados constantemente, inclusive enquanto aos seus sentimentos doutrinários. Há alguns que crêem segundo o último pregador; e há outros que não sabem em quê crêem, mas crêem em quase tudo o que lhes falam.
O espírito de caridade cristã, tão cultivado nestes dias, e que todos amamos tanto, tem ajudado, temo, a trazer ao mundo uma espécie de latitudinarismo[1]; ou em outras palavras, os homens têm chegado a crer que não importa em quê creiam; que ainda que um ministro diga é assim, e o outro diga não é assim, sem dúvidas os dois estão no correto; que ainda que nos contradigamos absolutamente um ao outro, apesar disso, ambos temos a razão. Eu não sei onde fabricaram o juízo aos homens, mas a meu parecer, sempre se considera impossível crer em uma contradição. Não posso entender nunca como sentimentos tão contrários possam ser conformados à Palavra de Deus, que é a norma da verdade. Mas há alguns que são como um campanário sobre a torre de uma igreja, pois se voltam para onde sopre o vento. Como disse o bom senhor Whitefield: “seria mais fácil medir a lua para vestí-la, que identificar seus pensamentos doutrinários,” pois sempre estão variando e sempre estão trocando.
Agora, eu rogo que vocês sejam livrados disto, se é essa a vossa debilidade, e que possam ser estabelecidos. Que a intolerância seja arremessada para longe de nós. Sem dúvida, eu desejo que o cristão saiba o que considera que é verdade e logo o sustente. Tomem seu tempo para examinar a controvérsia, mas uma vez que tenham decidido, que não sejam convencidos com facilidade. Seja Deus verdadeiro, ainda que todo homem seja mentiroso; e sustenham que o que esteja de acordo com a Palavra de Deus um dia, não pode ser contrário a ela outro dia; que o que foi certo na época de Lutero e na época de Calvino deve ser certo agora; que as falsidades podem variar, pois têm uma aparência multiforme; mas a verdade é uma, é indivisível e para sempre a mesma. Que outros pensem o que queiram. Concedam maior latitude ao demais, mas vocês não se permitam a nenhuma falsidade. Permaneçam firmes e inabaláveis segundo lhes foi ensinado, e sempre busquem o espírito do apóstolo Paulo, “se alguém ensina um evangelho diferente do que haveis recebido, seja anátema”. Sem dúvida, como quero que estejam firmes em sua doutrina, minha oração é que estejam especialmente estabelecidos em vossa fé. Vocês crêem em Jesus Cristo, o Filho de Deus, e descansam nele. Mas algumas vezes vacilam; então perdem o vosso gozo e consolo. Eu peço para que sua fé esteja estabelecida, que nunca duvidem se Cristo é vosso ou não, senão que digam confiadamente: “Eu sei em quem tenho crido, e estou seguro que é poderoso para guardar o meu depósito”. Oro para que estejam estabelecidos em vossas metas e propósitos.
Há muitas pessoas cristãs que têm uma ideia muito boa em suas cabeças, mas nunca a implementam, porque perguntam ao amigo qual é a sua opinião. “Não é grande coisa,” responde. Por suposto que não. Quem tem em alta opinião as idéias dos outros? E de imediato, a pessoa que a concebeu renuncia a ela, e a obra nunca se completa. Quantos homens em seus ministérios começaram a pregar o Evangelho, e permitiram que algum membro da igreja, possivelmente algum diácono, lhe incitasse a orelha levando-se um pouco por essa direção. Mais tarde, algum outro irmão considerou conveniente incitá-lo em direção contrária. O homem perdeu o seu brio. Nunca se estabeleceu quanto ao que deve fazer; e agora se converteu em um simples lacaio, esperando a opinião de cada um, desejoso de adotar o que outros concebam que é o correto.
Agora, lhes peço que estejam estabelecidos em suas metas. Vejam qual é o lugar que Deus quer que ocupem. Parem ali, não saiam apesar de todas zombarias que tenham que suportar. Se crêem que Deus lhes chamou para uma obra, façam-a. Se os homens lhes ajudam, lhes agradeçam. Se não lhes ajudam, digam-lhes que se apartem de seu caminho ou serão atropelados. Que nada os intimide. Quem quiser servir ao seu Deus deve estar preparado algumas vezes a servir-lhe sozinho. Nem sempre lutaremos em meio as fileiras. Há momentos nos quais o Davis do Senhor deve pelejar sozinho com os Golias, e devem tomar consigo cinco pedras do riacho em meio ao escárnio de seus irmãos, e contudo, com suas armas, eles estarão confiados na vitória pela fé em Deus. Não permitam que lhes tirem da obra na qual Deus os pôs. Não se cansem de fazer o bem, pois ao seu devido tempo, colherão se não desfalecerem. Estejam estabelecidos. Oh, que Deus derrame esta rica bênção em vós.
Mas não estarão estabelecidos a menos que padeçam. Padecendo, ficarão em sua fé e estabelecidos em suas metas. Os homens são animais invertebrados nestes dias. Não contamos com os homens resistentes que sabem que têm razão e a sustentam. Ainda quando um homem esteja equivocado, alguém verdadeiramente admira sua retidão quando se levanta crendo que possui a razão e se atreve a enfrentar as ameaças do mundo. Mas quando um homem tem a razão, o pior que lhe pode ocorrer é que seja inconstante, que vacile, que os homens o intimidem. Lança isso para longe de ti, cavaleiro da santa Cruz, e seja firme se quer sair vitorioso. O coração desfalecente jamais tomou de assalto nenhuma cidade, e você nunca vencerá nem será coroado de honra, se teu coração não se endurece frente a cada investida e se não estás estabelecido em tua intenção de honrar ao teu Senhor e de ganhar a coroa.
Desta maneira termino de explicar a bênção.
II. Agora, lhes peço vossa atenção por mais alguns momentos, para observar AS RAZÕES PELAS QUAIS O APÓSTOLO ESPERAVA QUE ESTÁ ORAÇÃO FOSSE OUVIDA. Ele pedia que fossem aperfeiçoados, confirmados, fortalecidos e estabelecidos. Incredulidade sussurrou ao ouvido de Pedro: “Pedro, pedes demasiado. Sempre foste teimoso. Tu disseste: 'Manda que eu vá a ti sobre as águas.' Certamente que este é outro exemplo da tua presunção. Se tivesses dito: 'Senhor, santifica-me,' não teria sido uma oração suficiente? Não pediste demasiado?” “Não,” disse Pedro; e respondeu para a Incredulidade: “estou seguro que receberei o que tenho pedido; pois em primeiro lugar estou pedindo ao Deus de toda a graça: o Deus de toda graça.” Não somente o Deus das pequenas graças recebidas, senão o Deus da grandiosa graça ilimitada que está armazenada para nós na promessa, mas que todavia não temos recebido em nossa experiência. “O Deus de toda graça;” da graça que revive, que convence, que perdoa, que crê, o Deus de toda graça que consola, apoia, e sustêm. Certamente, quando viermos a Ele, não poderemos vir pedindo demasiado. Se Ele é o Deus, não de uma graça, senão de todas as graças; se nele está armazenada provisão infinita, ilimitada, inacabável, como poderíamos pedir demasiado, ainda que peçamos que cheguemos a ser perfeitos?
Crente, quando estiver de joelhos, lembre-se que estás indo até um Rei. Que suas petições sejam grandes. Imite o exemplo de um cortesão de Alexandre o Grande, que quando se lhe disse que podia receber o que pedisse como recompensa por seu valor, pediu uma soma de dinheiro tão grande que o tesoureiro de Alexandre recusou entregá-la sem falar primeiro com o monarca. Quando viu o monarca, este sorriu e lhe disse: “Em verdade é demasiado isso que pedes, mas não é demasiado para que Alexandre lhe conceda. Lhe admiro por sua fé em mim; entregue-lhe tudo o que pedir”. Me atreverei a pedir que meu temperamento colérico me seja tirado, que minha rebeldia seja extirpada, e minhas imperfeições sejam cobertas? Posso pedir ser semelhante a Adão no jardim, não, mais ainda, tão puro e perfeito como o próprio Deus? Posso pedir que um dia caminhe pelas ruas de ouro, e “cingido com as vestes do meu Salvador, santo como o santo,” estar no pleno brilho da glória de Deus, e clamar: “Quem acusará aos escolhidos de Deus?” Sim, posso solicitá-lo, e o terei, pois Ele é o Deus de toda graça.
Olhem novamente o texto, e vejam outra razão pela qual Pedro sabia que sua oração seria ouvida: “Mas o Deus de toda graça, que nos chamou.” Incredulidade poderia ter dito a Pedro: “Ah, Pedro, é verdade que Deus é o Deus de toda graça, mas Ele é uma fonte fechada, como águas seladas.” “Ah,” disse Pedro, “venha aqui, Satanás; não saboreias as coisas de Deus. Não é uma fonte selada de toda a graça, pois já começou a fluir.” “Mas o Deus de toda a graça, que nos chamou”. O chamado é a primeira gota de misericórdia que caiu nos lábios sedentos do moribundo. O chamado é o primeiro anel de ouro da corrente de eternas misericórdias. Não o primeiro em ordem de tempo com Deus, senão o primeiro em ordem de tempo conosco. O primeiro que conhecemos de Cristo em Sua misericórdia, é o que Ele clama: “Vinde a mim todos que estais cansados e sobrecarregados,” e que por meio de Seu doce Espírito se dirige a nós, de tal forma que obedecemos ao chamado e viemos a Ele.
Agora observem, se Deus me chamou, posso pedir-lhe que me confirme e guarde; posso pedir-lhe que conforme transcorram os anos, minha piedade não se apague; posso pedir que a sarça arda, mas que não se consuma, que a panela de farinha não escasseie e a vasilha de azeite não diminua. Me atreverei a pedir que até a última hora de vida possa ser fiel a Deus, porque Deus é fiel comigo? Sim, posso pedi-lo, e também o obterei: porque o Deus que chama dá o repouso. “Porque aos que antes conheceu, também os predestinou… E aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou”. Pensa em teu chamado, cristão, e tenha ânimo: “Porque irrevogáveis são os dons e o chamado de Deus”. Se Ele te chamou, nunca se arrependerá do que fez, nem cessará de abençoar e nem cessará de salvar.
Mas creio que há uma razão ainda mais poderosa: “Mas o Deus de toda a graça, que nos chamou à sua glória eterna.” Querido leitor, Deus te chamou? Sabes para quê te chamou? Primeiro te chamou a casa da convição, de onde te fez sentir teu pecado. Logo te chamou ao cimo do Calvário, de onde viste realmente teu pecado expiado e teu perdão selado com o sangue precioso. E agora Ele te chama. E de onde te chama? Ouço uma voz hoje: a incredulidade me diz que há uma voz que está me chamando para as ondas do Jordão. Oh, incredulidade! É verdade que minha alma tem que caminhar através das ondas tormentosas desse mar. Mas a voz provém das profundezas da tumba, provém da glória eterna. Ali onde Jeová se senta resplandecente em Seu trono, rodeado de querubins e serafins, desde o brilho que os anjos não se atrevem a olhar, escuto uma voz: “Venha a Mim, pecador lavado com o sangue, venha a Minha glória eterna.” Oh, céus! Não é este um maravilhoso chamado? Ser chamado à glória, chamado às ruas brilhantes e às portas de pérolas, ser chamado a ouvir as harpas e hinos de felicidade eterna, e ainda melhor, ser chamado ao peito de Jesus, chamado a ver a face de Seu Pai, chamado não à glória eterna, senão à Sua glória eterna, chamado à essa mesma glória e honra com as quais Deus se cercou para sempre.
E agora amados, é demasiado grande qualquer oração depois disto? Deus me chamou ao céu, e há algo na terra que Ele me negue? Se Ele me chamou para morar no céu, acaso não é necessária a perfeição para mim? Por isso, não posso pedi-la? Se Ele me chamou à glória, não é necessário que eu seja fortalecido para combater em meu caminho até lá? Acaso não posso pedir para ser fortificado? E mais, se há na terra uma misericórdia demasiadamente grande para que pense nela, demasiadamente grande para ser concebida, demasiadamente pesada para que minha língua a leve diante do trono em oração, Ele fará por mim muitíssimo mais abundantemente do que o que eu possa pedir, ou que possa alguma vez imaginar. Sei que o fará, pois me chamou à Sua glória eterna.
A última razão, pela qual o apóstolo esperava que sua bênção fosse derramada, é esta: “Que nos chamou à sua glória eterna em Jesus Cristo”. É um fato singular que nenhuma promessa seja tão doce para o crente como aquela na qual o nome de Cristo é mencionado. Se tenho que pregar um sermão de consolo para cristãos deprimidos, nunca escolheria um texto que não me permitisse guiar a pessoa deprimida até a cruz. Não lhes parece demasiado, irmãos e irmãs, neste dia, que o Deus de toda graça seja seu Deus? Acaso não ultrapassa a vossa fé, que Ele efetivamente os haja chamado? Não se perguntam as vezes se em verdade foram chamados? Quando pensam na glória eterna, surge a pergunta: “Eu a gozarei alguma vês? Alguma vez verei a face de Deus com aceitação?” Oh amados, quando ouvem de Cristo, quando sabem que Sua graça vem por meio de Cristo, e o chamado através de Cristo, e a glória por meio de Cristo, então dizem: “Senhor, posso crer agora, se é por meio de Jesus Cristo”. Não é difícil crer que o sangue de Cristo fora suficiente para comprar todas as bênçãos para mim. Se eu vou ao tesouro de Deus sem Cristo, temo pedir qualquer coisa, mas quando Cristo está comigo, então posso pedir-lhe tudo. Com certeza creio que Ele o merece ainda que eu não o mereça. Se posso argumentar Seus méritos, então não tenho medo de suplicar. Acaso a perfeição é uma bênção demasiadamente grande para que Deus a dê a Cristo? Oh, não. Guardar a estabilidade e a preservação dos comprados com o sangue, é, acaso, uma recompensa demasiadamente grande para as terríveis agonias e sofrimentos do Salvador? Não o creio. Então podemos suplicar com confiança, porque tudo vem a nós por meio de Cristo.
Para concluir, quero fazer este comentário. Desejo, meus irmãos e irmãs, que durante este ano possam viver mais perto de Cristo do que hajam vivido antes. Estejam convencidos disto: quando pensamos muito em Cristo é quando pensamos menos em nós mesmo, em nossas aflições, e nas dúvidas e temores que nos assediam. Comecem a fazer isto neste dia, e que Deus lhes ajude. Não permitam que passe nenhum dia sobre vossas cabeças, sem uma visita ao jardim do Getsêmani e à cruz do Calvário.
E quanto a alguns de vocês que não são salvos, e conheceram ao Redentor, Deus quer que venham a Cristo neste mesmo dia. Me atrevo a dizer que vocês crêem que vir a Cristo é algo terrível: que necessitam estar preparados antes que possam vir; que Ele será duro e rigoroso convosco. Quando os homens têm que ir ao advogado, podem tremer; quando têm que visitar ao médico, podem sentir temor; ainda que ambos tipos de profissionais não sejam bem-vindos, em muitas ocasiões são necessários. Mas quando venham a Cristo, podem vir com ousadia. Não precisam pagar honorários; não é necessária preparação. Podem vir tal como são. Martinho Lutero fez um comentário cheio de valor quando disse: “eu correria aos braços de Cristo, ainda que tivesse uma espada desembainhada em Sua mão.” Agora, Ele não tem uma espada desembainhada, senão que tem Suas feridas nas mãos. Corre aos Seus braços, pobre pecador. “Oh,” tu perguntas: “posso vir?” Como podes fazer esta pergunta? Se te ordena vir. O grande mandamento do Evangelho é: “Crê no Senhor Jesus Cristo.” Os que desobedecem este mandamento, desobedecem a Deus. É tão mandamento de Deus que o homem creia em Cristo, como o é que devemos amar a nosso próximo. Agora, como é um mandamento, eu tenho certamente o direito de obedecê-lo. Vocês podem ver que não há nenhuma dúvida; um pecador tem a liberdade de crer em Cristo porque lhe foi dito que o faça. Deus não lhe teria dito que fizesse algo que não devas fazer. Se te permite que creias. “Oh,” dirá alguém, “isso é tudo o que necessito saber. Eu creio que Cristo pode salvar perpetuamente. Posso descansar minha alma nele, e dizer que me submerja ou nada: bendito Jesus, Tu és o meu Senhor?” Dizes: Posso fazê-lo? Homem, se te manda que o faças! Oh, que possas fazê-lo. Lembre-se, nisto não está arriscando nada. O risco está em não fazê-lo. Arroja-te em Cristo, pecador. Descarte qualquer outra dependência e descanse unicamente nele. “Não,” dirá alguém, “eu não estou preparado.” Preparado, amigo? Então não me entendeste. Não é necessária nenhuma preparação; se trata de vir simplesmente como és. “Oh, não sinto minha necessidade o suficiente.” Eu sei que não. Mas, o que isso tem a ver? Se te ordena que se lances em Cristo. Não importa quão negro ou quão mau seja, confia nele. O que crê em Cristo será salvo, ainda que seus pecados sejam muitos; o que não crê será condenado, ainda que seus pecados sejam poucos. O grande mandamento do Evangelho é: “Crê.” “Oh,” alguém dirá, “devo dizer que Cristo morreu por mim?” Ah, eu não disse isso, tu o saberás logo. Essa pergunta não tem nada que ver contigo agora, teu assunto é crer em Cristo e confiar nele; arrojar-te em Seus braços. E que o Deus Espírito te conduza suavemente agora para que o faças.
Agora, pecador, aparta as tuas mãos de tua justiça própria. Abandona toda ideia de tornar-te melhor por meio de tuas próprias forças. Se deixe levar pela promessa. Diga:
“Ainda que não tenha nenhum argumento,
Exceto que Teu sangue foi derramado por mim,
E que me ordenas a vir a Ti;
Oh, Cordeiro de Deus! Eu venho, eu venho.”
Não podes confiar em Cristo para descobrir depois que te enganaste.
Agora, tenho me expressado com clareza? Se tiver aqui um grupo de pessoas endividadas, e se eu dissesse: “se vocês me confiarem suas dívidas, serão pagas, e nenhum credor os molestará adiante,” me entenderiam claramente. Como é que não podem entender que confiar em Cristo eliminará todas as vossas dívidas, removerá todos os vossos pecados, e serão salvos eternamente? Oh, Espírito do Deus vivo, abra o entendimento para recebê-lo, e o coração para obedecê-lo, e que muitas almas se lancem sobre Cristo. Sobre todos eles, assim como em todos os crentes, eu pronuncio a bênção, com a qual os despedirei: “Mas o Deus de toda a graça, que nos chamou à sua glória eterna em Jesus Cristo, depois que tenhais padecido um pouco de tempo, ele mesmo os aperfeiçoe, confirme, fortaleça e estabeleça!”. Amém
___________________
ORE PARA QUE O ESPIRITO SANTO USE ESSE SERMÃO PARA CONVERSÃO DE MUITAS ALMAS PARA CRISTO.
Tradução: Junior Rubira
Revisão e diagramção: Armando Marcos
Texto original: Una Bendicion de Año Nuevo, de Allan Román, traduzido de A NEW YEAR’S BENEDICTION, do Volume 6 do New Park Street Pulpit.
[1] Latitudinarianismo – foi um movimento de parte da Igreja Anglicana de alguns clérigos no século 18, que defendiam a tolerância religiosa e sustentou um meio termo entre o dogmatismo religioso e o ceticismo
FONTE: www.projetospurgeon.com.br